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Diário das violências

2017

Um pergaminho de tecido, enrolado num rolo de massa. Nele estão bordadas em vermelho vivo histórias de violências atuadas por homens contra mulheres próximas a mim ou não.

O que me impulsionou a escrever esse diário foi um extremo incômodo com a condição de ser mulher nesta sociedade ainda patriarcal, onde o ser biológico homem é naturalmente colocado numa condição de superioridade, conferindo à mulher um lugar onde é alvo de violências em diversos níveis e dimensões cotidianamente.

Um dia quase fui propositadamente atropelada por um homem. Num outro dia, um homem no ônibus passou a mão em mim. As notícias de violência contra a mulher me chegam a cada dia aos montes. Foi quando me dei conta de que precisava escrever um diário de violências, para que elas pudessem ser lembradas e vistas por outras mulheres, por homens e crianças, no sentido de conscientizar pelo relato sobre as formas de opressão.

Foi então que me veio o bordado para dar corpo e durabilidade aos relatos, em formato de pergaminho, que remete ao muito antigo, mas no entanto atual e vivo, como a cor vermelha do sangue.

As memórias de violência, por mais incômodas que possam ser, não devem ser esquecidas, pois se não são encaradas, o absurdo da brutalidade se perpetua como um fato natural e corriqueiro, senão com ironia e sarcasmo.

"Algumas mulheres vão sendo apagadas aos poucos, outras de uma só vez. Algumas reaparecem. Toda mulher que aparece luta contra as forças que desejam fazê-la desaparecer. Luta contra as forças que querem contar a história dela no lugar dela, ou omiti-la da história, da genealogia, dos direitos do homem, do estado de direito. A capacidade de contar sua própria história em palavras ou imagens já é uma vitória, já é uma revolta.”

Rebecca Solnit

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