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Biblioteca Viva

A palavra página vem do latim pagus, que quer dizer o campo do agricultor.
Cavando buracos em livros descobri escrever com ausências, silêncios; extrair o sumo impossível, a seiva. A terra escura que insurge das páginas de antigas enciclopédias e tratados de psicologia parece ser a saturação do que há de preto no papel, como se reunisse em si a possibilidade de toda a escritura, de toda a informação, que ali se manifesta viva, num broto verde de girassol.

Este trabalho surge em 2015, do cruzamento da minha experiência com alimentação viva e a minha pesquisa de mestrado artística sobre diários.

A Biblioteca Viva é a própria vida na Terra em toda sua diversidade, que traz em seu DNA as informações vivas, ou seja, um sistema interativo que cria a realidade e todo um repertório estético, atemporal e surpreendente.

A experiência sinestésica com as palavras evoca uma leitura contemplativa. O cultivo diário da vida, no seu estado nu, nos aproxima de uma modalidade de conhecimento ativo, que envolve o cuidado e a compreensão da impermanência da vida e seus ciclos.

Isto vai de encontro ao conhecimento eternizado dos livros, e aponta para um estado primordial do saber, que talvez os magos, bruxas e filósofos antigos tenham vivenciado, na aproximação não-compartimentada com o mundo. 

Frente à eminência da destruição do ecossistema terrestre, causada pela ingerência humana guiada pela ignorância da ignorância, Biblioteca viva é uma forma de grito silencioso, e uma aposta na força da vida em ressurgir das cinzas.

Queremos o grão de areia, o latido de um cão, a calma circunspecta de um ovo; o silêncio necessário para deixar a coisa ser.

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